Criador de um fenômeno televisivo que, a partir do México, se espalhou pelo continente e conquistou legiões de fãs em toda a América Latina, o humorista mexicano Roberto Gomez Bolaños, autor e intérprete dos personagens Chaves e Chapolin, morreu nesta sexta-feira, aos 85 anos. Com a saúde fragilizada há mais de uma década, Bolaños passou os seus últimos anos em uma cadeira de rodas, lutando contra problemas respiratórios e complicações de diabetes. Nesta sexta-feira, ele sofreu uma parada cardíaca.
A morte de Bolaños deixa órfã uma geração de fãs brasileiros que cresceu assistindo aos episódios de Chaves, a sua principal criação, reprisados exaustivamente pelo SBT ao longo das últimas três décadas. Um grupo de admiradores fiel que, ignorando todas as limitações técnicas da produção, sempre garantiu ótimos resultados de audiência ao programa mexicano – e sempre mostrou um impressionante poder de mobilização a cada ameaça de cancelamento das exibições do seriado, com campanhas fora e dentro das redes sociais. Nesta sexta, com a notícia da morte do humorista, a direção do SBT estuda levar ao ar um especial para homenageá-lo.
Pequeno Shakespeare - Antes de se tornar o criador – e o rosto – de Chaves, porém, Bolaños já havia construído uma sólida trajetória artística em seu país. Versátil, o mexicano trabalhou desde jovem nas mais diversas mídias: foi roteirista de programas de rádio, peças de teatro, esquetes de televisão e filmes no cinema – muitas vezes assumindo também o papel de ator. Tal habilidade rendeu ao multifacetado artista o apelido de Chespirito – "pequeno Shakespeare" –, alcunha pela qual ficaria conhecido no México até o fim da carreira, encerrada hoje.
A fama internacional, no entanto, só chegaria mesmo a partir dos anos 1970, com a criação de seus dois personagens mais famosos: o presunçoso herói Chapolin Colorado e o ingênuo Chaves. Dono de uma marreta biônica de plástico e de "anteninhas de vinil" sensitivas, Chapolin é uma divertida sátira dos infalíveis super-heróis dos quadrinhos americanos. A série colecionou um enorme número de fãs e conquistou o seu próprio status cult – camisetas com o emblema do personagem são um ícone pop até hoje –, mas seu alcance jamais superou o da outra criação de Bolaños.
Fenômeno latino - Exibido em mais de cem países ao longo de quatro décadas, Chaves desembarcou no Brasil quase por acaso. A série era parte de um pacotão de programas do canal mexicano Televisa comprado por Silvio Santos para turbinar a programação do ainda jovem SBT. Foi o início de uma bem sucedida parceria. Por quase trinta anos ininterruptos, Chaves foi uma das principais atrações – e curingas – da emissora, cobrindo qualquer buraco que surgisse na grade, e invariavelmente dobrando a audiência da faixa. No auge do sucesso, o humorístico cansou de dar surras na Globo, roubando o primeiro lugar no Ibope e deixando diretores do canal carioca temerosos por seus empregos.
Embora também tenha conquistado fãs em outras partes do mundo, foi na América Latina que a principal obra de Bolanõs ganhou contornos de fenômeno cultural – a ponto de ser comparada pela revista Forbes ao revolucionário Simon Bolivar por seu poder unificador no continente.
Para o humorista, os índices de pobreza da região ajudavam a explicar o grande apelo do personagem entre os latino-americanos. "O Chaves é uma criança que não cresce porque não come. O personagem faz sucesso em qualquer lugar do planeta onde haja fome", disse ele na entrevista a VEJA.
Imagens retiradas do Google
Fonte do Texto: veja.abril.com.br
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