A maior parte das milhares das grandes crateras da nossa própria lua
foram escavadas
há bilhões de anos. Mas alguma foi registrada em tempos históricos?
As chances disso são de cerca de mil para 1. Contudo, há o possível
relato de uma testemunha para um evento assim.
Foi no domingo antes da festa de são joão batista no verão de 1178. Os
monges da catedral de canterbury tinham acabado de completar as suas orações
vespertinas e já estavam para se retirar para a noite. O erudito irmão gervase
voltou para a sua cela para ler, enquanto alguns dos outros foram lá fora para
desfrutar do suave ar de junho. No meio da recreação, eles tiveram a chance de
testemunhar um visão surpreendente... Uma violenta explosão na lua. Era uma
época em que pensava-se que os céus eram imutáveis. A lua, as estrelas, e os
planetas eram julgados puros, porque seguiam uma rotina celestial invariável.
Esperava-se que eles se comportassem sem distúrbios inconvenientes, como
monges em um monastério. Seria sábio discutir tal visão? Em toda época e
cultura há pressões para se submeter aos conceitos prevalecentes. Mas também
há, em cada lugar e época, os que valorizam a verdade, que registram fielmente
a evidência. As gerações futuras estão em débito com estes. Um incêndio na
lua... Poderia ser um presságio de má sorte? O cronista do monastério deveria
ser comunicado? Esse evento seria uma aparição do maligno? Gervase de
canterbury era um historiador, considerado hoje um repórter confiável dos fatos
políticos e culturais de sua época. Este é o seu relato do testemunho ocular
que ele prestou: “agora havia uma nova lua brilhante, e como é usual nesta
fase, suas pontas estavam inclinadas em direção ao leste; e de repente a ponta
superior se partiu em duas. Do ponto médio desta divisão de tocha flamejante se
elevou, vomitando, a uma distância considerável, fogo, carvões quentes,e
centelhas. Depois dessas transformações...”,continou gervase, “... A lua, de
ponta a ponta, ou seja, ao longo de toda a sua extensão, assumiu uma aparência
enegrecida”. Gervase tomou depoimentos de todas as testemunhas oculares.
Mais tarde escreveu: “o presente escritor ouviu este relato de homens
que viram isso com seus próprios olhos, e estão prontos para arriscar sua honra
em um juramento de que eles não acrescentaram nem inventaram nada”. Gervase pôs
o relato por escrito, permitindo que os astrônomos 8 séculos depois tentassem
reconstruir o que realmente aconteceu. Pode ser que 200 anos antes de chaucer 5
monges tenham visto um fato mais maravilhoso do que o muito celebrado conto de
canterbury. Se uma pequena montanha à deriva atingisse a lua, faria o nosso
satélite balançar como um sino.
Finalmente, os tremores iriam cessar; mas não em meros 800 anos. Então,
a lua ainda está estremecendo pelo impacto? Os astronautas da apollo instalaram
uma série de espelhos especiais na lua. Refletores feitos por cientistas
franceses também foram postos na Lua pelo veículo soviético lunakhod. Quando um
feixe de laser da terra atinge um desses espelhos e volta, o tempo da viagem de
ida e volta pode ser medido. No observatório Mcdonald da universidade do texas,
um feixe de laser está pronto para ser disparado para os refletores na lua, a
380 mil km de distância.
Multiplicando o tempo de viagem pela velocidade da luz, a distância até
aquele ponto da lua pode ser determinado, até uma precisão de 7 a 10 cm, a
largura de uma mão. Quando tais medições são repetidas em um período de anos,
até uma oscilação extremamente leve no movimento da lua pode ser determinado. A
precisão é fenomenal: o erro é muito menos do que um milionésimo de 1%.
Acontece que a lua está balançando suavemente como um sino, como se tivesse
sido atingida por um asteróide há menos de mil anos. Então, pode haver
evidência física na era do vôo espacial segundo o relato dos monges de
canterbury no século 12. Se há 800 anos um grande asteróide atingiu a lua, a cratera
deve estar proeminente hoje, ainda cercada por raios brilhantes, tiras finas de
poeira levantada pelo impacto. Em bilhões de anos, os raios lunares são
erodidos, mas não em centenas. E, existe uma cratera recente chamada giordano
bruno, exatamente na região da lua onde foi relatada uma explosão em 1178.
fonte : trecho do livro de Carl Sagan - "Cosmos"
Texto de Cosmos ep. 4 né? De Carl Sagan.
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