Hoje é dia dos finados, 2 de novembro, e ao visitarmos o cemitério, pelo menos eu, procuro sempre as covas mais antigas e analiso as datas de falecimento e nascimento daquela pessoa que hoje não existe mais. Penso na época em que eles viviam, suas diversões problemas e alegrias. Os laços tanto familiares como amorosos dentro da dimensão de sua época.
Alguns dias antes do dia dos finados os coveiros fazem um verdadeiro mutirão de limpeza no local, limpam e pintam as covas e retiram os restos mortais muitos dos poucos ossos ainda dentro da manga da camisa da última roupa utilizada no enterro do falecido(a). Então olho os funcionários pegando aqueles pequenos pedaços de ossos com a pá e de forma negligentemente desrespeitosa se livra jogando por trás do muro do cemitério onde há um terreno baldio com outros entulhos de pedaços madeira de caixão velhos, roupas, e coroas de flores murchas e secas.
Fico pensando como a história humana é desprezada e esquecida naquele simples ato negligente e ilegal por lei. Mas, o contexto aqui é que mesmo depois de morto aqueles ossos espalham-se sem seu dono original pelo chão e encoberto pela lama e mato para todo sempre.
Não gostaria de ser enterrado, mas cremado, esse é um dos motivos o qual não gostaria de ver "pedaços" de mim desprezados "ao leu". Mas quem gastaria uma fortuna para cremar um corpo num país onde a cultura está longe desse método eficaz e diminuir os espaços dos cemitérios superlotados.
Outro ponto negativo de não cremar é o velório, um local "festivo" para pessoas que fingem em sentir a dor do familiar para visitar a pessoa onde antes era ignorado(a) pelo visitante que sequer não olhava para sua cara e cumprimentá-lo agora olha para você depois de morto em um ato de diversão como vou ir "ali ver um defunto qualquer".
Por isso que, sem velório de falsas máscaras, nem um corpo para ser desprezado aos pedaços. Somente as cinzas de um corpo cremado jogando em um jardim ou outro local favorito, seria bem poético e perfeito para a história de alguém que respeitou a própria vida, não acham?
texto: fl@vio