Equipes: 13
Quando: 24 Junho 1950 a 16 Julho 1950
Final: 16 Julho 1950
Jogos: 22
Gols: 88 (média 4.0 por partida)
Público: 1045246 (média 47511)
O Brasil construiu o maior estádio de futebol do planeta para sediar a
Copa do Mundo da FIFA 1950, mas a esperança de consagrar o gigantesco
Maracanã com o primeiro título mundial foi destruída após uma das
maiores surpresas da história da competição.
A Copa do Mundo da FIFA 1950 não teve final, pois foi decidida em um
quadrangular. Mesmo assim, Brasil e Uruguai fizeram justamente na última
rodada da fase final a partida que decidiu o torneio. Precisando de
somente um empate, a seleção brasileira abriu o marcador com Friaça aos
dois minutos do segundo tempo, mas o Uruguai conseguiu a virada com gols
de Juan Schiaffino e Alcides Ghiggia. Um silêncio ensurdecedor de 200
mil vozes foi ouvido no Maracanã, e o pequeno país vizinho comemorou no
Brasil o seu segundo título mundial.
O Uruguai, campeão mundial em 1930, só precisou disputar uma partida
(goleou a Bolívia por 8 a 0) para chegar ao quadrangular final. Na fase
decisiva, o selecionado saiu perdendo todas as três partidas, mas
conseguiu na última a virada que entrou para a história como o Maracanazo.
A competição no Brasil foi a primeira Copa do Mundo da FIFA após a
Segunda Guerra Mundial. Durante todo o conflito, o cobiçado troféu
ficara escondido em uma caixa de sapatos sob a cama do italiano Ottorino
Barassi, vice-presidente da FIFA. Com o retorno da paz, ele ganhou o
nome de Taça Jules Rimet para comemorar o renascimento da competição.
Treze participantes
Apenas 13 seleções disputaram o título no Brasil devido à ausência de
países do Leste Europeu e a uma série de desistências de peso,
especialmente de Argentina e França — esta última em protesto contra um
itinerário que envolveria uma viagem de 3.500 km entre uma partida e
outra.
A Inglaterra estava presente pela primeira vez depois de vencer um
torneio entre os países das Ilhas Britânicas. Por outro lado, a Escócia,
que teria o direito de viajar depois de ficar em segundo lugar, recusou
a oportunidade. Quem também se classificou, mas não quis jogar, foi a
Turquia. Já a Índia disse não porque a FIFA não permitiria que seus
atletas jogassem de pés descalços. Os cinco participantes sul-americanos
não precisaram disputar nenhuma partida nas eliminatórias.
O torneio teve uma primeira fase bastante incomum, com as seleções
divididas em dois grupos de quatro países, um grupo de três e ainda um
grupo com somente Uruguai e Bolívia.
O Maracanã era um monumento à ambição brasileira, e os homens comandados
por Flávio Costa superaram a expectativa na estreia e abriram a
campanha com uma goleada de 4 a 0 sobre o México.
Porém, o empate em 2 a 2 com a Suíça deixou o Brasil precisando de uma
vitória no último jogo diante da Iugoslávia. Na partida que decidiu o
grupo, os brasileiros tiveram um pouquinho de sorte quando o atacante
iugoslavo Rajko Mitić machucou a cabeça ao subir as escadarias para o
gramado do Maracanã. Ele ainda estava sendo atendido quando Ademir abriu
o placar para o Brasil, que definiu o marcador com Zizinho no segundo
tempo.
Enquanto o Brasil avançava, a campeã Itália era eliminada ao ser
derrotada pela Suécia por 3 a 2. Os escandinavos, todos amadores, haviam
perdido Gunnar Gren, Gunnar Nordahl e Nils Liedholm para a Série A
italiana após o título olímpico em 1948. Mas os jogadores dirigidos pelo
inglês George Raynor ainda tinham o suficiente para superar a Itália,
que perdera muitos dos seus principais atletas no ano anterior em um
terrível acidente aéreo que tirara a vida de 19 jogadores do Torino.
Surpresa norte-americana
Com o terceiro lugar da Suécia, Raynor foi o único inglês a comemorar
algo no Brasil. A seleção do país que inventou o futebol moderno fez
muito feio na sua primeira participação na Copa do Mundo da FIFA. A
Inglaterra chegou mal-preparada e pagou caro em Belo Horizonte com uma
derrota por 1 a 0 para os Estados Unidos. Treinados pelo escocês Bill
Jeffrey, os americanos haviam estreado com derrota para a Espanha, mas
tinham aberto o marcador e permanecido na frente do placar durante a
maior parte do jogo contra nesse revés. No entanto, contra a Inglaterra,
tiveram a ajuda da sorte para manter a vantagem assegurada com um gol
de Joe Gaetjens no primeiro tempo.
Na Inglaterra, alguns jornais acharam que o resultado era um erro de
digitação e publicaram que a partida havia terminado em 10 a 1. No fim, a
seleção inglesa voltou para casa bem mais cedo do que esperava após
outra derrota por 1 a 0 para a Espanha, com um gol de Zarra. Entre os
homens que escreveram uma das páginas mais lamentáveis da história do
futebol inglês estava o lateral-direito Alf Ramsey, que se redimiu como
treinador ao conquistar o título mundial em 1966.
Celeste Olímpica cala o Maracanã
No quadrangular final, o Brasil estreou com tudo ao golear a Suécia por 7
a 1 com quatro gols de Ademir, artilheiro da competição anotados. Com
uma nova goleada por 6 a 1 diante da Espanha, os brasileiros ficaram com
uma mão no troféu. Só precisavam empatar na última rodada com o
Uruguai, que vinha de um empate em 2 a 2 com a Suécia e uma vitória por 3
a 2 sobre a Espanha, em ambos os casos chegando ao intervalo em
desvantagem.
Embora o Uruguai tivesse vencido um dos três amistosos entre os dois
países dois meses antes da competição, a confiança era tanta no Brasil
que o jornal Gazeta Esportiva trouxe a manchete "Venceremos o
Uruguai". O prefeito do Rio proclamou o Brasil campeão do mundo antes do
pontapé inicial, e poucas almas em uma torcida estimada em 174 mil
espectadores — mas que pode muito bem ter superado a marca dos 200 mil —
imaginavam qualquer coisa diferente.
O Brasil abriu o placar com tranquilidade em uma jogada armada por
Zizinho e Ademir e concluída por Friaça. Mas o Uruguai, comandado pelo
capitão Obdulio Varela, empatou aos 21 do segundo tempo depois de
Gigghia passar por Bigode pela ponta direita e cruzar para Schiaffino
marcar. Então, faltando apenas 11 minutos, veio o imponderável: Gigghia
deixou Bigode mais uma vez para trás e chutou entre Barbosa e o poste,
levando a Celeste Olímpica ao paraíso — e o Brasil ao desespero.